Valmor Venzke, o morador mais antigo da rua Augusto Otte, faleceu nesta segunda-feira
Hoje a rua Augusto Otte perdeu seu morador mais antigo. Desde que nasceu, há 74 anos, Valmor Venzke residia aqui. Por conta de sua boa estatura prestou serviço militar no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Na época, uma honraria destinada aos mais fortes. Lá recebeu o apelido de “Capitão” e quando voltou chamava os mais próximos pelo mesmo apelido, na hora de cumprimentar: “E aí Capitão, como vai?” Era assim que por onde passava irradiava alegria.
Na rua e no bairro, o filho da Dona Amélia do Seu Erwin (Ervino) era conhecido e querido por muitos. Por onde passava era garantia de bom papo e boas gargalhadas, com suas tiradas e gírias. Às vezes ele ria antes de terminar sua piada ou resenha. Assim aprendemos a conviver com ele. Mesmo em momentos mais delicados de sua vida, nunca faltou com respeito com a vizinhança.
De origem humilde, trabalhou em várias empresas do bairro, como a Fundição Pete Sildebrg. Também como vigia noturno do SENAC.
Como hobby, mantido desde os tempos de adolescência, os “Gibis” de faroeste com suas tirinhas em preto e branco que ele trocava em lojas de revistas usadas. Lembro também de suas invejadas edições da Revista Placar, especialmente quando seu time do coração, o Flamengo, era destaque. Tinha o Zico como seu grande ídolo.
Aliás, nessas cinco décadas de convívio com o Valmor, eu evitava papo de futebol com ele. Era, como todos, muito fanático, por seu time. Na infância, eu só falava com ele sobre quando o seu Flamengo perdia para meu Fluminense. Na fase adulta, esse tipo de assunto se tornou mais raro.
Suas visitas aqui em casa eram frequentes, especialmente quando meu pai era vivo. Depois, veio com certa frequência por aqui para dar uma força pra mãe após a morte do pai.
Dos tempos de jovem, meu pai sempre o chamava para realizar alguns serviços domésticos pesados, como roçar o morro ou “rachar” lenha para uso no fogão e o forno a lenha.
Costuma dizer que o Valmor era um “cavalo” pra trabalhar. Ele e mais alguns moradores abriram a “facão” um campinho de futebol com tamanho quase oficial, lá nos altos de onde hoje só resta um terreno baldio, na rua Frei Ernesto Emmerdoerfer.
Na pandemia, em razão das restrições e a necessidade de distanciamento social, suas vindas até a nossa casa (adorava vir aqui tomar um café preto e pitar um cigarrinho por aqui) não ocorreram mais e nossas conversas ficaram raras. Ele bem que tentou vir nos primeiros dias de isolamento social, mas para o bem dele e da minha mãe, pedi que não. Ficou meio assim “chateado”, mas compreendeu.
Uma de nossas últimas conversas e talvez a última foto de sua vida, tive a honra de fazer quando levei para ele, as máscaras de malha doadas pela Cia. Hering aos moradores do Bom Retiro. A foto foi ao lado da Sandra, sua irmã mais nova. Já não estava com sua saúde 100%. Mesmo assim, a conversa fluiu como sempre.
O “Capitão” Valmor Venzke partiu para mais uma batalha, deixando enlutados seis irmãos, a Laurita, sua companheira de todas as horas; três filhos (Luciana, Alexandre e Jean); três netos; seis irmãos (de uma família numerosa, restaram um homem e cinco mulheres), além de cunhadas e sobrinhos.
O velório do Valmor ocorreu na tarde desta nublada e chuvosa segunda-feira, 28 de dezembro de 2020 (um ano totalmente anormal e de muitas perdas), no Crematório Vaticano, BR-470 e no mesmo local ocorreu a cerimônia de despedida antes do encaminhamento para a cremação, atendendo ao pedido do mesmo.
Fica aqui a saudade e o orgulho de poder ter convivido com uma cara tão pra frente e sempre com um papo alegre.
Ele virou mais uma “estrela” da Augusto Otte, ao lado dos seus pais, dos seus irmãos a Neca, o Arno, o Dio e o Nego, e de seus vizinhos que lhe eram tão próximos, como meu pai, a Dona Dora, o Osni, a Catarina, o Seu Irineu, a Dona Juvita, o Seu Raul, o Seu Cabral, o Janga, a Dona Jovita, a Dona Clara, o Seu Zé Lang, entre tantos outros que já não estão em nosso convívio.
“Capitão”, que Deus te guarde e ilumine, Amém!
Um abraço do amigo de sempre!
Giovani Vitória
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