Ministro da saúde defende pessoas em casa até organizar o sistema de saúde para não saturar

“Porque se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar pro rico, pro pobre, pro dono da empresa, pro dono do botequim, pro dono de todo mundo”, afirmou.

Embora não tenha sido direto e explícito, o ministro da saúde Luiz Mandetta foi mais enfático de que as pessoas devem permanecer em casa para que o sistema de saúde não se sobrecarregue, aumentando a letalidade da Covid 19 por falta de leitos e de UTI.

Citou o fato de as pessoas estarem em casa já ter ajudado, por exemplo, o número de internados por acidentes de trânsito diminuir, liberado espaço para os que precisam se tratar da Covid. “Mais uma razão pra gente diminuir bastante a atividade de circulação de pessoas no intuito de diminuir o trauma, que é um efeito também secundário, benéfico, além do efeito de diminuir a transmissão”, disse.

O ministro afirmou ainda: “Mais uma razão pra gente ficar em casa, parado, até que a gente consiga colocar os equipamentos na mão dos profissionais que precisam. Porque se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar pro rico, pro pobre, pro dono da empresa, pro dono do botequim, pro dono de todo mundo”.

Mandetta disse que vai se pautar por critérios técnicos e pela ciência: “Nós precisamos ter racionalidade e não nos mover por impulso neste momento. Nós vamos nos mover, como eu disse desde o princípio, pela ciência e pela parte técnica, com planejamento. Pensando em todos os cenários quando a gente fala de colapso, de sobrecarga, ou de sobreuso no sistema, a gente tá falando disso. Não só de sobrecarga na saúde, mas, por exemplo, na logística.”

Desafio inédito 

O ministro da saúde enfatizou que o desafio do novo coronavírus é inédito no mundo. E que a doença ataca a saúde, a economia e a sociedade como um todo. E que por esse motivo exige toda a cautela.

Alertou ainda para o fato de estar cheio de professor de epidemiologia, cheio de fazedores de conta, de cálculos, alertando: “Essa epidemia é totalmente diferente da H1N1”.

“Não há receita de bolo. Quem raciocinar pensando: nesta aqui foi assim, vai errar feio. Essa não é assim. Essa causou não uma letalidade pro indivíduo, não é esse o nosso problema. Nem daqueles que falam assim: ah essa doença vai matar só 5 mil, só 10 mil. Não é essa a conta”.

“A conta é: esse vírus ele ataca o sistema de saúde e ataca o sistema da sociedade como um todo. Ele ataca logística, ele ataca educação, ele ataca economia, ele ataca uma série de estruturas no mundo.”

Setores essenciais 

O ministro da saúde descartou nesse momento a discussão sobre quarentena vertical – só de idosos – ou horizontal, abrangendo todas as idades.

Ele disse que o que não pode haver é uma parada de todos, em todo o Brasil. “Não existe quarentena vertical, horizontal. Existe a necessidade de arbitrar em determinado tempo qual o grau de retenção que uma sociedade deve fazer”, acrescentando que o lockdown, uma parada absoluta ou total, pode vir a ser necessário, em algum momento ou em alguma cidade. O que não existe é um lockdown desarticulado. Isso é um desastre que vai causar muito problema na saúde, por exemplo.

O ministro da saúde disse que tudo precisa ser articulado, num acordo nacional entre prefeitos, governadores e governo federal. O ministro disse ainda que os governadores devem seguir os parâmetros que adotaram até aqui.

O ministro ainda criticou aqueles que querem convocar protestos pelo fim do isolamento: “Fazer movimento assimétrico, de efeito manada, agora nós vamos daqui duas semanas, três semanas, os mesmos que falam ‘vamos fazer uma carreata de apoio’ os mesmos que fizerem vão ser os mesmos que vão estar em casa. Não é hora agora”.

Jovens em casa e comércio 

Mandetta explicou por que o comércio não pode reabrir e também por que os jovens têm de ficar em casa, apesar de terem apenas sintomas leves em sua maioria: “Por que se suspendem aulas? Se todas as crianças e jovens, como vocês viram, se têm a doença e são assintomáticos e são sintomas leves, por que a gente os tira da aula? Muitas vezes é o que fala: ‘Deixa as crianças e adolescentes’. É porque eles são assintomáticos e não sabem, só transmitem. Como voltam para casa e casa tem cômodo, temos déficit habitacional enorme, pode contaminar cinco, seis pessoas. Quando a gente diminui a mobilidade, cada um positivo contamina dois. Quando deixa todo mundo andando, cada um contamina seis, e isso faz progressão geométrica, faz essa curva super rápida”.

“Se eu deixar a movimentação social contínua eu não estou preparado para hora que chegar lá no Zé Pereira, na periferia, sobrecarregar em bloco o sistema de saúde. Todo comércio está falando: eu quero abrir, eu quero abrir. Calma porque vamos ter que fazer isso. Uma regrinha para saberem. Vou abrir assim: faço teste com funcionário, menos mesa, não pode ter fila de espera, buffet, fila um atrás do outro. Algumas coisas que vamos colocar para serem pontos de referência. Para não falar que está tratando assim ou assado.”

O presidente está certíssimo quando fala que a crise econômica vai matar as pessoas. As pessoas não aguentarão a fome. Está certíssimo. E nós somos 100% engajados em achar a solução junto com a equipe da economia. Acho que já temos uma fórmula já trabalhada, eu já coloquei em discussão. Vamos aumentar, vamos melhorar. Precisa de um grande pacto para que possamos sair do outro lado”, finalizou Mandetta.

Fonte: G1

 

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