NOSSA GENTE: As memórias de Marlies e Ivo Koffke

60 de boas histórias vividas no Bom Retiro

Na terceira reportagem que resgata a história de nossos moradores, fomos até a casa do casal Marlies e Ivo Koffke, no início da Hermann Hering. São 60 anos de Bom Retiro. Os dois têm a mesma idade: 83. No depoimento ao VIVER BOM RETIRO, eles relembravam a convivência com antigos vizinhos, os concertos gratuitos de piano do empresário Ingo Hering, nas manhãs de domingo, e os dramas vivenciados nas enchentes.

Dona Marlies é natural de Florianópolis e veio para Blumenau com 12 anos. Cursou o primário no Colégio Sagrada Família e o ginásio na então Escola Normal Pedro II. Voltou ao Sagrada Família para lecionar aulas de admissão para quinta série. Foi chamada pela Escola Barão, onde deu aulas de história e geografia. Depois atuou na biblioteca e como auxiliar de orientação pedagógica. Aos 65 anos se aposentou, após 30 de magistério.

Ivo Koffke é um blumenauense na gema, nascido na rua Ângelo Dias. Seu pai era proprietário do Comércio Carlos Koffke, no prédio onde hoje está instalada a Câmara de Vereadores. Era um armazém de secos e molhados, onde se vendia de tudo: alimentos, tecidos, bebidas, cano de água. A casa foi aberta no final da década de 20 e foi considerado o primeiro supermercado de Santa Catarina. Por lá, seu Ivo ficou por 28 anos.

Ivo trabalhou depois em duas empresas antes de ingressar no Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) por 15 anos, até se aposentar.

60 anos de união 

Dona Marlies e seu Ivo celebraram 60 anos de casamento no ano passado (Bodas de Diamante). Os dois se conheceram ainda adolescentes, aos 14 anos e casaram com 22. A primeira residência foi no Supermercado Koffke, por um curto período, logo chegaram ao Bom Retiro, adquirindo o imóvel de Heinz Hering. 

Da união do casal vieram três filhos, dois deles nascidos no Bom Retiro: o Wilson e o David. O Roberto veio pequeno para atual residência. Ele é proprietário da Mecânica Hot Rod, na rua Victor Hering, com fundos para casa dos pais. É um especialista em barcos e lanchas. Além disso, tem uma intensa participação comunitária no bairro e integra a diretoria da Associação dos Moradores. 

Seu Ivo foi aviador aos 17 anos. Pilotava aeronaves Teco-Teco do Aeroclube de Blumenau. “Ainda não era motorista de carro, mas já pilotava avião”, se diverte a Dona Marlies. Ele é o autor da foto aérea do bairro que estampa a matéria da página 8, na última edição do VIVER BOM RETIRO.

 

 

 

Construíram uma canoa para enfrentar as enchente e ajudar

Nesses quase 60 anos de residência no bairro, conviveram com pelo menos 26 enchentes. As de 83 e 84 foram as que causaram mais prejuízos ao patrimônio da Famila Koffke. As águas chegaram ao forro da casa, onde haviam colocado peças menores. Foram obrigados a se alojar onde hoje funciona a Wizard. Foram 10 dias alojados por lá no ano de 83.

Era a única família que tinha canoa no bairro. Seu Ivo mandou fazer logo que veio morar no Bom Retiro. E ela ainda existe. Com ela, os filhos faziam o transporte das pessoas do bairro até o Hospital Santa Isabel e também levavam alguns produtos essenciais para a casa de saúde.

Das histórias que emocionam, uma das mais marcantes foi protagonizada pelo filho Wilson. Ele levou uma mulher em trabalho de parto para o Hospital e lá ouviu que se fosse homem, levaria seu nome.

Os concertos dominicais do empresário Ingo Hering 

As manhãs de domingo de dona Marlies eram na sua aconchegante varanda, onde ouvia o empresário Ingo Hering, seu vizinho de frente, executar belos clássicos ao piano. “Era um grande pianista”, comentou. Das amizades com a vizinhança, recorda com saudades a convivência com a dona Izolde, mãe do empresário Carlos Tavares D’Amaral.

Naquela época, o passatempo preferido da família era realizar piqueniques nas residências dos vizinhos. E as sessões de cinema no Cine Busch eram programas obrigatórios nas tardes de domingo.

Seu Ivo contou que o Bom Retiro já teve até uma churrascaria, administrada pelo morador Paulo Fischer. Ficava no final da servidão inominada defronte a rua Alexander Fleming. Aos domingos servia vários tipos de carne e comida caseira. “Era um lugar agradável, numa casa em meio ao verde”, reconta.

Era um bairro tranqüilo 

O casal sente saudades da tranquilidade do bairro. Nesse período a arquitetura foi preservada, mas o trânsito aumentou em muito, tirando aquele clima sossegado que era impactado apenas na troca de turnos da Cia. Hering, quando os ônibus tomavam a Hermann Hering, dividindo espaço com as bicicletas dos seus colaboradores.

Na década de 60 não havia a ligação pelo Morro da Cia para veículos pesados. Só passavam carros de pequeno porte. “Era uma picada melhorada”, recordou dona Marlies. O trânsito na Hermann também era mais lento.

O primeiro asfalto chegou apenas no trecho entre o trecho do Curtume Otte e a Hering, uma melhoria paga ela Hering. Anos mais tarde, a pavimentação foi estendida para o restante da via.

Nas imediações da residência da Família Koffke, a arquitetura pouco mudou. A única exceção foi o prédio construído ao lado da casa que pertenceu ao empresário Ingo Hering.

Um conselho para os moradores mais novos

Com a experiência de quem vivenciou muitas mudanças no bairro, umas boas e outras nem tanto, dona Marlies recomenda a preservação das construções e do meio ambiente no bairro. “É um dos poucos bairros de Blumenau que ainda conserva as suas características”, acrescentou.

Marlies torce por uma solução definitiva para acabar com o trânsito intenso por aqui, pois não comporta mais um fluxo de veículos dessa envergadura. “Meu sonho é ver pessoas da cidade e turistas contemplando a beleza das casas aqui preservadas. Coisa inimaginável nos dias de hoje. Não podemos é permitir prédios engolindo construções antigas”, explicou.

Para os moradores mais novos e futuras gerações, o conselho para que olhem com mais carinho para o bairro, conheçam a história das casas e ajudem a preservar a história do bairro, evitando sua descaracterização.

 

 

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